Em fevereiro de 2006, o preço do álcool superou em 9,5% o que havia sido acordado entre o governo e os produtores. O presidente da União da Agroindústria Canavieira de São Paulo – numa declaração simplista e cÃnica – limitou-se a afirmar que as condições do mercado faziam com que o acordo fosse considerado “superado”. Como sempre, os grandes produtores não assinam ou na respeitam os contratos de fornecimento de longo prazo, e preferem vender açucar para o mercado externo quando isso lhes dá mais lucro.
Alguns meses depois, em setembro, a mesma Associação já negociava com o governo um aumento de 20% para 25% no teor de álcool na gasolina, com prejuÃzo para os consumidores, já que o álcool tem menor poder calorÃfico e as mudanças constantes desregulam os motores dos automóveis. Os usineiros são sócios do governo quando isso lhes interessa. E o governo comporta-se – como sempre – de maneira subserviente.
Mas ninguém deve se preocupar, porque essa situação vai piorar muito. Em julho de 2006, a Petrobras anunciou, sem muito estardalhaço, que garantiria por 20 anos a compra de 3 bilhões de litros de álcool de usinas brasileiras de maneira a assegurar a disponibilidade de álcool para o Japão e outros paÃses. Ou seja, a Petrobras – sem o menor pudor – comunicava à nação que garantiria prazo e preços de um produto que simplesmente não produz. Para os grandes usineiros, esse é o melhor dos mundos. Garantias da Petrobras, além de poder manipular o percentual de álcool adicionado à gasolina no mercado interno da maneira que lhes for mais interessante a cada momento.
Com isso, o Brasil estará, assim, subsidiando os biocombustÃveis dos paÃses muito ricos. E novos contingentes de bóias-frias engordarão as favelas da periferia das grandes cidades, com aumento da violência e da demanda por serviços básicos como educação e saneamento.
Ninguém tem dúvidas de que a produção de biocombustÃveis compete com a produção de alimento – além da madeira para papel e celulose que já devastou o EspÃrito Santo e avança sobre o sul da Bahia. Com preços e prazos assegurados – ao contrário da produção de alimentos -, os grandes usineiros podem adquirir as melhores terras:as mais férteis, as mais planas, as que se localizam mais próximo dos grandes centros urbanos e dos portos. Além disso, haverá uma nova onde de “custos ocultos” (hidden costs) devido ao deslocamento da fronteira agrÃcola que leva a produção de produtos alimentares da cesta básica – inclusive perecÃveis – para mais longe dos centros consumidores. A segurança energética dos paÃses ricos prevalece, assim, sobre a segurança alimentar dos brasileiros.
O governo gosta de falar na importância da concorrência e do livre mercado, mas quando se trata de lobbies poderosos ou da pressão para que cresçam as exportações e seja possÃvel pagar mais juros, vale tudo. Até mesmo que a segurança energética dos paÃses muito ricos prevaleça sobre a segurança alimentar dos brasileiros.
Parabéns pelo blog!
Cou le-lo com regularidade e sempre que possÃvel prestar alguma ajuda.
Ãs vezes me sinto um sonhador por querer mudar um mundo sem ter forças, para lutar contra os poderosos. Depois de e reler ler todos os questionamentos que constante do blog. pergunto: essa ocorrencia toda não é um problema cultural, ja afirmado no texto? Será possivel mudar esse tipo de cultura (medóocre, de colônia de exploração) após todos esses tempos passados e com uma educação tão fraca? Eu gostara de continuar buscando um mundo melhor…mas a cada dia pareço mais distante da realidade.