Há alguns anos, o prefeito Cesar Maia lançou um projeto que oficialmente se destinava a “modernizar” as principais vias de pedestre nos bairros de mais alta densidade populacional e de bom poder aquisitivo da zona sul do Rio de Janeiro. Se bem me lembro, o projeto foi chamado Rio-Cidade. Bem ao estilo do prefeito, as obras se iniciaram pouco mais de um ano antes das eleições, e transfomaram o trânsito de carros e pedestres num caos absoluto. As calçadas foram esburacadas – alguns dizem que para a passagem dos cabos de fibra ótica da Net -, o trânsito virou um inferno, os ortopedistas encheram os bolsos com a quantidade de pessoas que quebraram alguma coisa. As obras tornaram as calçadas muito mais feias – definitivamente feias, parecendo sempre sujas – e a sensação que se tem é que nunca acabaram.
Durante essas obras foram retirados quilômetros de meio fio em pedra, material de grande valor por sua resistência e beleza. Nesses lugares, o meio fio foi substituÃdo por material de qualidade muito inferior.
à época, perguntei-me onde teriam ido parar os quilômetros de pedra trabalhadas manualmente, que simplesmente desapareciam sem deixar vestÃgios.
Recentemente, no centro do Rio, vi pilhas de meio fio de pedra. Pedras lindas, que acabavam de ser retiradas. Pedi a Zeca Linhares – certamente um dos melhores fotógrafos brasileiros vivos – que fizesse as imagens.
E agora, para onde vai esse material? Para a fazenda de algum amigo do poder?
Esse tipo de “modernização” é como substituir os lindos postes de ferro fundido trabalhado por esses novos, medÃocres, de cimento. E a gente fica sem saber para onde foram os anteriores.
Muita coisa desaparece das ruas do Rio. Fala-se no roubo dos cabos de eletricidade dos túneis, como se fosse possÃvel roubar algo com tanto peso sem algum tipo de omissão ou mesmo conivência. Desaparecem mapas antigos de bibliotecas, coleções de fotos do acervo da prefeitura, e mesmo obras de arte colocadas em logradouros públicos. Mas o “desaparecimento” de pedras que compunham os meios fios da cidade já chega à s raias do um “desmanche”.