Voltaremos aos usos múltiplos dos reservatórios das hidrelétricas – essas hidrelétricas cafetinadas pelo setor elétrico em detrimento de qualquer planejamento integrado para os recursos hÃdricos!
Hoje, apenas algumas imagens que permitem uma reflexão sobre quem é mais responsável pelo baixo Ãndice de desenvolvimento do Brasil: a turma do setor elétrico ou a do meio ambiente? Ou todo o resto, com a imperial incapacidade de formular e implementar projetos associada à “opção pelos ricos”, isto é, pelos banqueiros, ainda quando em detrimento do sistema de saúde público ou da segurança no controle dos transportes aéreos.
O setor elétrico, sob a gestão de Dilma Roussef, prometeu (pela centésima vez, nas últimas décadas), a universalização do acesso à eletricidade. Grandes fanfarras e muito marketing para mais um “Luz Para Todos”. Passados dois anos, não há informações oficiais sobre os resultados.
No sertão nordestino, uma pequena casa que se encontra a não mais que 200 metros da rede de baixa tensão. Há cerca de 20 anos prometeram a extensão da rede ao casal que nela reside. Felizes, eles adquiriram eletrodomésticos. A geladeira, que nunca funcionou, virou um armário, e a televisão se perdeu por nunca ter sido ligada e inexistirem peças de reposição. Ainda têm esperanças de que agora os recém eleitos tenham a generosidade de lhe conceder esse presente: o acesso à eletricidade.
O governo precisa visitar o sertão!
A mais comum é a conexão dos domicÃlios dos pequenos produtores rurais à rede enquanto as suas glebas, situadas 2-3 km adiante continuam sem eletricidade para acionar uma simples máquina agrÃcola de debulhar o milho, remover a casca da mamona ou acionar uma bomba d’água.
Das muitas cenas desse tipo que entravam o desenvolvimento econômico e a redução da pobreza, encontrei a mais impressionante no sul de Alagoas. Uma centena de famÃlias instalou-se na localidade há 20 anos, as casas foram construÃdas à s margens da estrada de terra batida, a linha de transmissão em média tensão passa em frente aos lotes desde sempre para atender uma usina de cana, mas esses pequenos produtores rurais não conseguem ter acesso à eletricidade.
Durante anos, os moradores da localidade foram ao prefeito e à CEAL – Companhia Energética de Alagoas pedir acesso à rede de eletricidade. Teriam ido ao Papa, se necessário. Pediram-lhes “abaixo-assinados”, um compromisso com um “polÃtico influente” desses que vivem de cafetinar ambulâncias e outras promessas, e muita paciência. Mas luz que é bom, nada. Até que a CEAL disse à associação de moradores que só faltava o transformador! E a associação de moradores comprou um transformador, que lá se encontra, encostado, há 2-3 anos, comprovando o desamparo e inspirando o desânimo.
Evidentemente, a rede continua atendendo ao engenho do grande produtor situado um pouco mais adiante.
Será que já existe algum relatório sobre o andamento do tal programa de universalização do acesso à eletricidade, ainda que “universalização” (agora entre aspas)? Ou as concessionárias locais continuam fazendo o que bem entendem, inexistindo qualquer oportunidade ou incentivo para a formação de cooperativas de eletrificação rural? Aqui, vale lembrar que até mesmo no paÃs onde o dinheiro é um deus, os EUA, as cooperativas de eletrificação rural desempenharam papel decisivo na universalização do acesso a esses serviços. E com sucesso!
Descaso similar encontra-se mesmo à s margens do rio São Francisco, onde os pequenos proprietários rurais não têm acesso á eletricidade. Na foto a seguir, uma imagem da pobreza rural vizinha da abundância de água. O clima e o regime pluviométrico são os mesmos de todo o sertão, e esses pequenos produtores não têm como fazer uso da água e, portanto, da terra! à fácil imaginar o que faria um paÃs sério em matéria de geração de produção e renda no meio rural em situação similar!
Dona Dilma – bolsa-famÃlia é bom, mas usos produtivos da energia elétrica são ainda melhores! Dona Marina, a quase total remoção da mata ciliar ao longo de todo o rio São Francisco, bem como de seus reservatórios, aumentando a erosão e o assoreamento, são (ou deveriam ser) de competência de seu ministério que nunca ousou se pronunciar de maneira programática em relação ao absurdo programa de transposição das águas para beneficiar grandes latifundiários!
Finalmente, imagens de uma pequena cidade que ainda é abastecida por água coletada nos “barreiros” e transportada em lombos de burros para as residências… também nas proximidades do São Francisco. Primeiro, o “barreiro”, no caso formado pela construção de uma estrada para atender a uma mineração; depois, o “sistema de abastecimento” da cidade.
Dilma Roussef, que antes de deixar o cargo no ministério de Minas e Energia criou mais uma estatal – a Empresa de Pesquisa Energética (EPE) – para abrigar alguns assessores, aproveita-se agora do momento de transição para golpear Marina Silva abaixo da linha da cintura. A EPE, que ficou todo esse tempo na mesmice do melhor aproveitamento apenas hidrelétrico dos recursos hÃdricos, deve tê-la alertado, recentemente, de sua própria falta de criatividade e da necessidade de encontrar um bode expiatório.
Dona Dilma pedo o apoio de Lula para não “judicializar” (sic) o licenciamento das obras que certamente são de interesse das grandes empreiteiras (sim, ela assassina o idioma, ainda que ares de “eficientização” e estilo diferente do “noço guia”). Já dona Marina tenta se escorar num abaixo-assinado envolvendo 500 organizações não-governamentais…. como se existissem 500 organizações ambientalistas realmente representativas no Brasil. Mas jamais têve a ousadia de colocar o setor elétrico em seu papel de apenas mais um usuário dos recursos hÃdricos e manteve-se em sua usual posição escorregadia durante todo o debate sobre o absurdo projeto de transposição do São Francisco para atender aos interesses dos grandes proprietários rurais de outros estados.
Agora, elas que se entendam. Ou não! Mas o que entrava mesmo o desenvolvimento é a total falta de projetos – e não apenas de projetos de infra-estutura. Só agora, o governo descobriu que não tinha projetos de infra-estrutura?! E discute as prioridades a portas fechadas, na moita, quase na clandestinidade, no Brasil deles mesmos.
PS – à bem verdade que a falta de projetos é crônica e não começou agora. Já vem de muitas administrações. A aridez de idéias e propostas é superior a aridez do sertão. Na era FHC, houve um único projeto: a venda de ativos. O chato é que essa abulia continuou no primeiro governo Lula.