A cidade do Rio de Janeiro sempre foi amada, cantada, visitada e conhecida no mundo inteiro pelas suas belezas naturais e pelo estilo de sua gente alegre, cordial, comunicativa.
O estilo carioca vem mudando, e muito! Aos gigantescos engarrafamentos de trânsito devidos à total falta de planejamento e de investimentos em transporte de massa, soma-se a expansão urbana desordenada, ao sabor das conveniências das construtoras. E, como se não bastasse, a violência tornou-se endêmica, tão usual quanto o lançamento de esgotos sem tratamento nas proximidades das lindas praias da cidade. A crescente tensão é inevitável e os seus resultados já são perceptÃveis no trato cotidiano com os cariocas.
Agora, é a paisagem que se vai. Não adianta a prefeitura falar em “áreas de proteção do ambiente cultural” (APACs), tombando alguns prédios sem maior valor arquitetônico e permitir que o mais precioso, as belezas naturais, sejam encobertas pela feia arquitetura.
A foto acima, de Zeca Linhares, mostra uma área onde o gabarito foi elevado ao longo do tempo. A contÃnua construção terminará por ocultar a linha das montanhas no horizonte. A foto abaixo é mais divertida – ou triste -, e dá a viva impressão de um “cerco à paisagem”. Neste caso, a Pedra de Itaúna.
Ao final, sobrarão as montanhas mais altas, como o Pão de Açucar e o Corcovado, marcos de uma cidade que já foi notável por suas belezas naturais.
Conta mestre Ãlvaro Pessôa que o Decreto 6.000, que na década de 30 previa a construção de apenas um pavimento na quadra da praia de Copacabana, com dois pavimentos no quarteirão seguinte, e assim por diante até o máximo de 6 pavimentos, foi tantas vezes modificado que passou a ser conhecido como Decreto 6 milhões. Essa regra era parte do “plano Agache”, urbanista francês que visitou o Rio de Janeiro em 1927, convidado a participar da elaboração do plano diretor da cidade. Desse trabalho, surgiu o primeiro grande Código de Obras do Rio de Janeiro, promulgado em 1937, e depois descaracterizado até chegarmos à opressora muralha de pedra de arquitetura de má qualidade em que se transformou Copacabana.
Agache colaobrou, mais tarde, com o planejamento urbano de Curitiba. Desnecessário dizer que do ponto de vista das belezas naturais o Rio de Janeiro é mais bonito. Mas no que se refere ao urbanismo e à arquitetura, bem, Paris lá está, lindÃssima, a visão atingindo a amplos espaços, removendo qualquer sentimento de opressão do tipo que é propiciado por nossas “selvas de pedra”.
E aqui, a degradação das paisagens prossegue, célere, com todas as bençãos do poder público, mais interessado em atender interesses pontuais do que em tornar a cidade mais bela e melhorar a qualidade de vida de seus habitantes.