Já se vão mais de 45 dias que a Nação não se importa com a greve do IBAMA. Tudo flui normalmente e as únicas notÃcias importantes sobre a “gestão ambiental” continuam a decorrer das ações da PolÃcia Federal que desmantela quadrilhas que falsificam documentos para a extração e transporte de madeira. Nas reuniões fechadas, um ou outro membro da restritÃssima cúpula do IBAMA tenta atribuir a greve à falta de diálogo com os funcionários antes da decisão sobre a criação de um Instituto Chico Mendes, uma invenção tirada do bolsilho para tentar criar um fato que desviasse a atenção dos conflitos entre os interesses de uma empreiteira….. ops, da ministra Dilma Roussef e a já crônica inapetência de Marina Silva para sair do passado imaginário e encontrar-se com a realidade do executivo de hoje. Mas essa não é uma justificativa sensata para a greve, que expressa uma insatisfação mais ampla.
Afinal, por que razão ninguém parece sequer notar essa paralisação, em especial num perÃodo em que as causas ambientais são tão simpáticas à imprensa e à população em geral?
Uma das razões pode ser encontrada na falta de resultados positivos mensuráveis que decorram da atuação atuação do órgão de nome longo, pomposo e moldado pelo marketing. O IBAMA continua sendo percebido como a administração do “não pode” e “do verde”. Na prática, os parques nacionais continuam fechados à visitação pública, a poluição atmosférica nos grandes regiões metropolitanas não foi reduzida e as informações são tão rarefeitas quanto o bom oxigênio, a degradação dos rios avança com a mesma tranquilidade das águas, as empresas estatais de saneamento continuam sem metas claramente definidas, os lixões continuam a sua vida pacata e os urubus ameaçam os aviões de carreira nas proximidades dos aeroportos. O urubu deve ser preservado?
As idéias também envelheceram. As grandes novidades do dia se tornaram chavões, do tipo “ICMS ecológico”, a criação de um novo parque de papel, a revisão do plano diretor de uma APA para que nela caiba os interesses dos “investidores estrangeiros” (esse mantra é cansativo). Tudo na contra-mão do que aconteceu nos paÃses sérios ao longo das últimas décadas, onde foram e continuam sendo encontradas soluções pelo menos para os problemas ambientais locais ou regionais. E é evidente que as pessoas siimplesmente vêem que não há como comparar o Tietê com as fotos dos alemães se banhando à s margens de um Reno limpo, na proximidade de patos, marrecos e até cisnes!
Agora, com o pânico decorrente das inevitáveis mudanças climáticas, fica difÃcil falar em meio ambiente num Brasil que ficou no limbo entre a Ãfrica e os paÃses que se consolidaram como “sociedades de conhecimento”, dos quais a China se aproxima rapidamente.
Sempre se pode dizer que teria sido muito pior sem o IBAMA e sem os órgãos ambientais estaduais. Mas esse argumento não parece comover ninguém além dos que se auto-denominam “ambientalistas”. Ninguém vive do passado, em particular dos problemas que deveriam ter ficado no passado.
Privado de novos conceitos – exceto os quilombolas, que tanto encantam a ministra Marina Silva – e de novos métodos de gestão, talvez o IBAMA tenha falecido do mal causado pelo ideal de uma biodiversidade sem seres humanos, gerando toda essa indiferença da sociedade.
à tempo de sair dos velhos chavões do tipo “blitz ecológica” para a formulação de polÃticas públicas com metas concretas, mensuráveis, e prazos. Como nos paÃses sérios.
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E agora, IBAMA, como ficará o licenciamento de Angra III? Trata-se do prosseguimento a um programa nuclear que deveria estar ultrapassado, que não conduziu o Brasil ao domÃnio da tecnologia, mas que já implantou duas usinas em péssima localização, com grandes prejuÃzos para a vocação natural da região de Angra dos Reis. Aos mais jovens, vale contar que depois de construÃda Angra I foram detectadas instabilidades geológicas que resultaram na necessidade da colocação de um grande número de estacas profundas, com substancial aumento do preço da obra. Algo como o que está acontecendo na “Vila do Pan”. à época, uma antropóloga do Museu Nacional sorriu e comentou que o nome da praia onde está a Angra I, também conhecida como “usina vaga-lume”, é Itaorna, que em tupi-guarani significa “pedra mole” ou “pedra podre”. A burrice também dá a sua contribuição para o tal do “custo Brasil”. Será que no processo de licenciamento alguém vai solicitar um estudo de alternativas locacionais, como manda a Resolução CONAMA que define critérios para a realização de estudos de impacto ambiental ou as regras valem apenas para os que os pequenos?