No mesmo dia em que Lula visitava a Finlândia – viagem turÃÂstica importantÃÂssima! -, a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) divulgou um relatório reforçando a posição de que o aumento da demanda por biocombustÃÂveis seguramente implicará no aumento dos preços dos alimentos. A OCDE não é uma ONG e inclui, entre os seus membros, a própria Finlândia, além da Dinamarca, Noruega, Suécia, Holanda, Alemanha, Inglaterra, França e muitos outros paÃÂses. Lula discorda e não vê conflitos entre os usos da terra.
Não é a primeira vez que a OCDE apresenta estudos bastante aprofundados projetando significativos aumentos de preços dos produtos agropecuários em função da demanda por biocombustÃÂveis. Há poucos meses, a OCDE divulgou relatório conjunto com a FAO (a ultra-conservadora Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação) no qual as projeções são bastante conservadoras. Essas projeções indicavam para o aumento de 13% a 17% no preço dos grãos até 2017, 50% nos preços da carne bovina e suÃÂna, e de pelo menos 70% nos preços dos óleos vegetais (www.oecd.org/dataoecd/6/10/38893266.pdf) . Isso tudo sem considerar a crescente demanda por terras agriculturáveis para a produção de madeira para uso em termelétricas e, também, para suprir a demanda adicional proveniente da substituição dos plásticos por produtos de origem vegetal.
O novo relatório, sem a influência dos pruridos diplomáticos da FAO, vai bastante além e ressalta que a produção de biocombustÃÂveis implica, também, no aumento do consumo de pesticidas tóxicos e fertilizantes altamente danosos ao meio ambiente, na acidificação dos solos, e na inexorável perda da biodiversidade. Como era de se esperar, esses paÃÂses priorizam os avanços tecnológicos que possam resultar na redução do uso de combustÃÂveis. Parece inevitável que o Brasil se mantenha como exportador de produtos primários, de baixo valor agregado, e importador de tecnologia, com alto valor agregado.Â
No mesmo dia em que a OCDE divulgou o seu último relatório, Rubens Barbosa, presidente do Conselho de Comércio Exterior da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo – FIESP, publicou um artigo intitulado “Crise no Programa de BiocombustÃÂveis”. Vale citá-lo:
“Qual a situação real do biodiesel (no Brasil)?
“Segundo a ANP, entre janeiro e junho de 2007 foram produzidos no Brasil 122 milhões de litros de biodiesel (…). Apesar da expansão, o volume é 30% inferior ao que deveria ter sido entregue até junho de 2007 de acordo com os contratos firmados no segundo leilão de biodiesel realizados pela ANP em março de 2006.”
O autor demonstra que o cumprimento dos contratos em sua totalidade requer um aumento de 600% da produção no segundo semestre de 2007 quando comparada com a produção do primeiro semestre.”
Fora a acentuada divergência de pontos de vista entre Lula, sem números, e a OCDE/FAO, com números, resta, então, saber se as empresas que assinaram contratos e não cumpriram serão multadas, como sempre ocorre com os cidadãos comuns, ou se o assunto será esquecido, como é mais provável.
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Na Suécia, Lula repetiu a mesma monótona baboseira sobre as “barreiras comerciais”, sem se dar conta que a Europa inteira preza a sua segurança alimentar e energética, ao contrário do Brasil, que exporta alimentos que aqui faltam.
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Ninguém, mas ninguém mesmo, jamais comprará mamona para a produção de biodiesel. A produção de óleo de mamona refinado para uso em cosméticos, aditivo em motores de aviação (inclusive da NASA), na indústria de esmaltes e outras, proporciona uma taxa interna de retorno média de 25%, enquanto se o produto for encaminhado ao mercado de biodiesel essa taxa de retorno não será superior a 12%. As grandes esmagadoras que compram óleo de mamona para ter um “selo social” (eleitoral) do governo vendem o produto para os fins mencionados acima e empurram na Petrobras o óleo de soja mesmo. Ã‰ a velha polÃÂtica do “me engana que eu gosto”.