A EMBRAPA – Monitoramento por Satélite colocou recentemente em sua página na internet um estudo realizado por uma equipe de seis profissionais das melhores estirpes demonstrando que a multiplicidade dos dispositivos de preservação da vegetação nativa e indigenista fazem com que, no Brasil, 58,5% do território nacional estejam legalmente preservados. Restam, assim, 41,5% para a exploração agro-florestal, desenvolvimento urbano, sistemas de geração e transmissão de energia, mineração e infra-estrutura em geral (estradas, portos, ferrovias, etc). O único problema, então, é que a turma das políticas públicas de meio ambiente não tem a mais vaga idéia do que fazer com essa imensa parcela do Brasil que está legalmente preservada.
O assunto foi motivo de desentendimento numa audiência pública realizada pela Comissão de Meio Ambiente da Câmara dos Deputados. Desnecessário dizer que foi devastadora a sova que um relatório desse calibre com o timbre da EMBRAPA deu no representante do Ministério do Meio Ambiente, chefe do Departamento de Conservação da Biodiversidade do Ministério do Meio Ambiente, ainda que este tenha exercido o seu jus esperneandi com grande pose.
O estudo da EMBRAPA – Monitoramento por Satélite pode ser encontrado em www.alcance.cnpm.embrapa.br/index.htm.
A restrição intencional dos debates sobre os temas ambientais brasileiros à Amazônia não é suficiente para esconder que as políticas públicas para o setor, elaboradas e implementadas ao longo dos últimos 25-30 anos fracassaram integralmente. Os rios estão mais poluídos, a qualidade do ar nas grandes metrópoles e mesmo em cidades de porte médio é lastimável, os índices de coleta e tratamento (tratamento de verdade) de esgotos são baixos, a coleta e a disposição final adequada de lixo são extremamente precárias, e por aí afora. Mais do que isso, o poder público é o principal responsável pela poluição, já que é massiva a presença de empresas públicas no setor de saneamento – esgoto e lixo -, sobre as quais os órgãos de gestão ambiental têm influência desprezível ou nenhuma (ao contrário do que acontece nos países sérios). E isso para não falar no fato de que a quase totalidade dos parques nacionais e estaduais são, aqui, literalmente parques de papel.
Já é tempo de começar a rever a legislação e as correspondentes políticas públicas, antes de uma possível derrocada. Não adianta culpar os outros – há que reconhecer as próprias responsabilidades. Os órgãos governamentais de meio ambiente, em todos os níveis, sempre disseram que avanços significativos só aconteceriam quando os demais setores do governo assumissem a questão ambiental. Agora, quando o setor agrícola quer fazê-lo, esses mesmos órgãos preferem recusar-se ao diálogo ou simplesmente tentar impor os seus pontos de vista, para continuar cafetinando a gestão ambiental.
Não é assim nos países que já resolveram totalmente ou quase totalmente os seus problemas ambientais internos, da poluição das águas à conservação dos solos. Como já se disse aqui, nos EUA o Serviço Nacional de Parques é subordinado ao Ministério do Interior e o Serviço Nacional de Florestas ao Ministério da Agricultura, e ambos funcionam impecavelmente. E a Agência de Proteção Ambiental efetivamente estabelece normas e fiscaliza – se impõe – às empresas de água e esgotos, sem a baderna que aqui impera no setor.
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Muito se fala na matriz energética limpa do Brasil como se essa fosse uma vitória das políticas públicas de meio ambiente. Não é. O potencial de energia hidrelétrica é abundante e o Programa Nacional do Álcool não foi em absoluto concebido e desenvolvido por razões ambientais, e sim para evitar o colapaso da balança de pagamentos à época da primeira “crise do petróleo”.
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O veto de Lula a um par de artigos introduzidos pela Congressa na MP da regularização fundiária na Amazônia não altera fundamentalmente os seus objetivos e consequências. A impressão que fica é que as emendas foram introduzidas justamente para que pudessem ser vetadas, dando assim uma impressão de atendimento aos ambientalistas e alguns emepéios/emepéias.
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Os grandes idiotas da imprensa e das empresas públicas continuam rse referindo a áreas de desmatamento e a volumes de esgoto em campos ou estádios de futebol, na suposição de que os leitores e ouvintes são burros. Sequer suspeitam é que les é que emburrecem o país.
E desde quando há alguma diretriz de planejamento neste país?
Se há 50% do território de certa forma “protegido” pela legislação, é quase certo que a outra metade só está a salvo da sanha “protegedora” dos nossos deputados por pura sorte. E pela falta de mapeamento.
Fica difícil falar a sério sobre qualquer assunto (e, evidente, planejar e atuar, no que se refere ao poder público) quando o mais importante é cercar as competências e atribuições legais de cada órgão e esfera.
E complemento: “Fica difícil falar a sério sobre qualquer assunto…” quando os cargos atribuídos para qualquer função relacionada ao meio ambiente (comum a todos os setores do governo) são ocupados por pessoas que sequer estudaram o tema. Do que adianta colocar excelentes profissionais (como os cientistas) quando não são eles que tomarão decisões (sérias ou não) ou sequer serão ouvidos sobre as suas áreas de especialização? O que o “Zé Ruela” colocado por outro de sua estirpe ou por voto na função de decidir sobre o futuro da nação pode avaliar – enxergar a longo prazo, ser responsável, etc. -Como podem antecipar os resultados de suas próprias decisões se agem pensando nos interesses próprios ou no voto?
Com toda sinceridade, o governo da forma que é montado, jamais dará certo. Somente pessoas competentes tomarão decisões competentes.