Cientes de que as mudanças climáticas não são coisa para o futuro, mas já estão acontecendo, as autoridades inglesas começam a agir para reestruturar os sistemas de drenagem de águas pluviais do país. Trata-se de reduzir os riscos de enchentes (que ao contrário do que alguns tentam fazer acreditar aqui, não tem qualquer relação com o desmatamento dos topos de morro, mas com essas mudanças no regime de chuvas e com os altos índices de impermeabilização das cidades.
Curiosamente, entre as soluções consideradas – não há uma, mas várias, que serão aplicadas de maneira conjunta – encontra-se explicitamente citado um exemplo dos trópicos: a drenagem superficial pelas sarjetas, tão difundida nas cidades amazônicas, onde as chuvas intensas se concentram em curtos períodos de tempo.
(O divertido é que, aqui, uma dessas leis mal paridas em Brasília, durante muito tempo exigiu que loteamentos tivessem redes de drenagem de águas pluviais em todo o território nacional, incluindo o semi-árido nordestino, o que desestimulou sobremaneira a implantação de loteamentos para a população de baixa renda.)
Os engenheiros ingleses já alertaram para o fato de que os atuais sistemas de canalizações subterrâneas não serão suficientes para evitar as enchentes nos próximos anos. As coisas mudaram, e as enchentes já não se dão apenas e nem principalmente pelo transbordamento dos rios, mas pelos níveis de impermeabilização das áreas urbanas, bem como pela insuficiência dos sistemas de drenagem para dar vazão a “tipos de chuvas” que antes não aconteciam no país.
Com o escorrimento superficial e sem caminhos para escoar, essas chuvas criam o que aqui os especialistas chamam de “ressonância”, aquela turbulência que é possível ver nos trechos alagados das cidades durante os temporais e que, pela força da energia que não se dispersa, forma ondas que retornam, espalham-se em várias direções, e acabam por tornar qualquer salvamento quase impossível.
Mas lá, ao contrário daqui, as autoridades ouvem os especialistas. Então, já começaram a trabalhar e um relatório analisando todos os aspectos do assunto e contendo alternativas de adaptação será entregue no próximo ano.
Das duas outras propostas – além do modelo tropical de escoamento pela sarjeta -, uma é muito interessante: o uso de um “asfalto poroso”, uma pavimentação que permita a infiltração de pelo menos uma parcela do escorrimento superficial das águas de chuva.
A outra, bastante mais simples e já usada no Brasil – mas que precisa ser rapidamente difundida – é a contenção dessas águas em tanques de espera suficientes para assegurar a sua retenção parcial e infiltração gradativa em muitos locais das cidades.
O relatório que está sendo preparado menciona especificamente os grandes estacionamentos, coisa que as grandes cidades brasileiras já deveriam ter tornado obrigatório há algum tempo. Mas não à base de leis genéricas feitas por políticos assessorados por parentes, mas chamando meteorologistas, hidrólogos, especialistas em engenharia hidráulica e similares.
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A Inglaterra do chatérrimo príncipe Charles, que clama pela defesa de florestas tropicais mas silencia quando o seu país não consegue atingir metas de redução de emissões nem mesmo do próprio ministério de Energia e Mudanças Climáticas, tem estranhas peculiaridades. Uma delas, a repressão violenta a manifestantes contrários à implantação de novas usinas de carvão.
As imagens que podem ser vistas no link abaixo – da prisão de duas manifestantes – não são novas, mas só agora foram liberadas para a imprensa.
http://www.guardian.co.uk/environment/video/2009/jun/21/fit-watch-kingsnorth-arrests