Entre os mitos amazônicos, o mais atual refere-se ao imenso potencial de atrair recursos dos países altamente industrializados para a proteção das florestas de maneira a conter as emissões de dióxido de carbono. Toda a luta da jogatina política, bem como as esperanças dos ambientalistas fascinados pela Amazônia que não conhecem está no reconhecimento do valor da preservação das florestas pré-existentes ao encontro de Copenhaguem – já que essas florestas não foram incluídas como potenciais receptores de créditos de carbono no Protocolo de Kyoto.
Essa farsa não sustenta diante da mais superficial avaliação da distribuição de florestas no mundo e da posição relativa do Brasil entre os países. Caso os “ricos” forem pagar por florestas e a densidade per capita de florestas na totalidade dos países ou mesmo entre os países pobres – e até muito mais pobres do que o Brasil, já que se pretende aliar desenvolvimento às metas de redução de gases causadores de mudanças climáticas -, as vantagens comparativas do Brasil podem não ser tão grandes quanto observadas sob a ótica planetária – em lugar do próprio umbigo.
Abaixo, as 31 primeiras posições de 194 países. A lista completa pode ser encontrada em www.nationmaster.com/graph/env_for_are_sq_km_percap-area0sq-km-per-capita.
Área de Florestas Per Capita – Em Quilômetros Quadrados (2005) Ranking País Área 1 Suriname 325.913 2 Guiana 201.060 3 Gabão 157.351 4 Canadá 96.020 5 Austrália 80.515 6 Botswana 67.669 7 Bolívia 63.973 9 Rússia 56.514 11 República do Congo 56.193 12 Butão 50.186 13 Papua Nova Guiné 50.002 14 Ilhas Salomão 45.464 15 Finlândia 42.889 16 Mongólia 40.141 17 Namíbia 37.716 18 Angola 37.076 19 Zâmbia 36.383 20 Guiné Equatorial 32.412 21 Paraguai 31.321 22 Nova Caledônia 30.578 23 Suécia 30.505 24 Laos 27.248 25 Brasil 25.627 26 Peru 24.579 27 Rep. Dem. do Congo 23.217 28 Vanuatu 20.817 29 Noruega 20.304 30 Nova Zelândia 20.217 31 Palau 19.901
Como se vê, as vantagens comparativas do Brasil não são tão grandes apenas em decorrência de seu território coberto por florestas nativas. Quando a questão das florestas é vista sob uma perspectiva global, as florestas do Suriname, da Guiana ou do Gabão podem exercer uma atratividade muito maior para os países que querem preservar florestas nativa, tanto em função das menores pressões demográficas quanto com os objetivos de associar desenvolvimento e proteção da biodiversidade.
O divertido é que em nenhum desses países há vestígios dos debates enfáticos e manipulativos que podem ser observados no Brasil. Até porque florestas maduras não absorvem carbono, e florestas bem manejadas preservam o ciclo do carbono quando uma árvore abatida é substituída por outra, recém plantada. Assim fazem países como a Suécia e a Finlândia, originalmente para manter os seus estoques de madeira destinada ao uso econômico.
Esta, aliás, é a origem da reserva legal no Brasil, que depois foi indevidamente apropriada pelos “zambientalistas” que ainda não explicaram qual seria a sua ‘função ecológica”.
Grande sacada Luiz Prado, tenho discutido (na Universidade) a respeito da manipulação de florestas quanto ao seu valor na troca de carbono. Uma floresta jovem sempre terá maior produtividade e qualidade do que uma floresta madura. Realmente a discussão nesse campo traria uma nova corrente de ação na preservação e manejo das florestas, é evidente que temos que analisar e buscar mais pesquisas nas universidades para a tomada de decisão, não esquecendo que uma floresta madura tem a sua importância no campo genêtico (banco de sementes). Tem o meu voto e apreço na matéria.Julio Stelmach – Acadêmico em Gestão Ambiental.
Esse aspecto que você comenta é um deles. Subdsenvolvidos – em particular subdesenvolvidos culturais, tecnológicos, políticos – só conseguem pensam em reduzir as emissões através da preservação de florestas e do plantio de novas florestas, nunca através de novas tecnologias e da diversificação da matriz energética. Um dia, na visão deles, poderão viver num país sem gente e só com “biomas”. Não há “oportunidades milionárias” para o Brasil nessa bobagem – e esse é o ponto mais importante do artigo -, até porque é mais fácil para os princípes Charles das esquinas comprar o Suriname do que fazer o sua usual demagogia por aqui.