“O fanático  é um novo tipo humano que não quer dar razões nem quer ter razão, mas, simplesmente, mostra-se diposto a impor as suas opiniões sem nenhuma justificativa além de sua vontade.”Ortega y Gasset, La rebelión de las massas, 1930)
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Agora, com a proximidade da votação da revisão do inútil Código Florestal, aumentam as notÃcias genéricas sobre os tais dos “biomas†– um escapismo para não falar da péssima gestão dos recursos naturais no Brasil – e sobre a necessidade de preservar nascentes e recursos hÃdricos -, estes ainda mais abandonados e impactados sobretudo pela omissão do poder público: falta de coleta e tratamento de esgotos, de investimentos em aterros sanitários, de diretrizes para sistemas de drenagem em áreas urbanas que conduzam à recarga dos aquÃferos subterrâneos e à redução das enchenntes, e por aà afora.
Entre essas omissões, nunca mencionadas por ONGs e nem mesmo por órgãos do governo, destaca-se, também, a falta de um programa pragmático – isto é, de campo, com metas – para identificar e proteger as áreas de recarga do lençol freático e as tão decantadas nascentes. Essa, afinal, foi a linha adotada, desde sempre, pela gestão ambiental dos paÃses sérios, que tiveram polÃticas consistentes e efetivas de proteção de seus recursos hÃdricos. Não há por que reinventar a roda! Mas esssa turma parece não gostar de nada prático e muito menos de trabalhar.
De fato, o conhecimento dos ciclos hidrológicos no Brasil se restringe, na prática, à s vazões dos rios para fins de construção de hidrelétricas “unidimensionaisâ€, isto é, projetadas apenas para geração eletricidade. Nada de contenção de enchentes, assegurar o abastecimento de água para a irrigação ou outra finalidade, e nem mesmo para viabilizar a navegabilidade dos rios. Isso para não falar nas atividades de lazer e piscicultura. As hidrelétricas mais antigas nunca foram objeto de licenciamento ambiental, ao contrário das indústrias mais antigas e da prática correntes nos paÃses sérios, onde as passagens para peixes já se encontram implantadas há muito.
Então, voltando à s “áreas de mananciais†– expressão genérica – , com as tecnologias hoje à disposição dos “gestoresâ€dos órgãos ambientais, não haveria qualquer dificuldade em estabelecer um programa sério de delimitação em campo e em plantas das áreas de nascentes, de recarga dos aqüÃferos subterrâneos, e outras informações relevantes, em tempo relativamente curto, contando com estudantes de geografia, hidrologia, engenharia ambiental, agronomia, etc. Uma espécie de “projeto Rondon das águas†já foi proposto. Mas, se aceito, a coisa perderia o charme discreto das idéias abstratas, vagas, sem materialização.
E note-se que a delimitação fÃsica, in loco, das diversas categorias de florestas, já estava prevista no Código Florestal de 1934!
Na série de reportagens que o Jornal Nacional iniciou, ontem, sobre o Código Florestal, dá-se o exemplo de um produtor rural do Cerrado que usa o plantio direto “na palhada†como se fosse um caso isolado. Conveniente para a reportagem superficial e para uma rede de TV que tenta se posicionar como inovadora. Bobagem para dar a impressão de que a Globo é que descobriu alguma novidade.
O plantio direto na palha é o que preserva efetivamente solos, águas subterrâneas e, em conseqüência, águas superficiais, protegidas dos processos de erosão e de sedimentação pela cobertura permanente dos solos até mesmo com culturas sem valor comercial. Ao garantir a infiltração lenta de água, ocorre a regularização natural da vazão dos rios! Nao se trata de um ponto da nascenteou da largura genérica da mata ciliar, mas de toda uma vasta área que contribuiu para a recarga do aquÃfero que abastece os rios! E a prática não é novidade, mas encontra-se amplamente difundida no Brasil.
De fato, a área agrÃcola que utiliza essa técnica de conservação dos solos passou de 260 mil hectares na safra de 1982/1983 para 25.5 milhões de hectares na safra de 2005-2006. E isso sem a intervenção do governo – ou com apoio limitado a alguns agrônomos dos órgãos estaduais de pesquisa e extensão na região Sul do paÃs. Os órgãos do governo federal só começaram a “pegar carona†na disseminação dos benefÃcios ambientais dessa prática muito recentemente, e ainda assim sob a ótica da redução das emissões de carbono.
O plantio direto também contribui para reduzir significativamente a necessidade de aporte de adubos quÃmicos e de uso de pesticidas, por manter a estrutura dos solos e a sua microbiologia.
Aqui, mais uma vez, foram e são os agricultores que protegeram o meio ambiente e os recursos hÃdricos, e não os órgãos governamentais de meio ambiente ou por ONGs autodenominadas “ambientalistasâ€.   Evidentemente, há muito por fazer e grandes madeireiras (dessas que apóiam ONGs ambientalistas) e outras empresas agropecuárias de grande porte preocupem-se, em geral, pouco ou nada com gestão de solos e de recursos hÃdricos.
Vale visitar a página da Federação Brasileira de Plantio Direto na Palha em www.febrapdp.org.br para ver o que é trabalho sério de gestão ambiental integrada! Na área de PD encontram-se as estatÃsticas de evolução da área agrÃcola total que já incorporou práticas de conservação de solo, bem como outras informações relevantes para quem afirma se preocupar com a gestão dos recursos naturais no meio rural… ainda que sem sair das cidades e dos bons restaurantes.
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Vale dizer que Dilma Roussef ouviu atentamente uma apresentação feita pela Federação durante um evento patrocinado por Itaipu Binacional. Seria interessante lembrá-la disso, e chamar a turma do plantio direto para as mesas de negociação sobre o tal projeto de “consenso” do governo.
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Até o momento, o mais ridÃculo das entrevistas do JN foi o representante do WWF falando contra a redução de 30 metros para 15 metros nas “faixas marginais de proteção” nos rios de pequena largura. Afinal, na matriz de fato do WWF, os EUA, não existe qualquer regra genérica para faixas marginais de proteção ou reserva legal.  E nem há razão para tanto. Os processos erosivos dependem da natureza do terreno, isto é, declive, formação geológica, pedologia, e não de qualquer largura burocraticamente definida pelo Congresso Nacional.
Parabéns pela lucidez dos comentários…sou engenheira agronoma, ja trabalhei com educação ambiental no Paraná e conheço muito a agricultura brasileira…seus acertos e mazelas!
Estou cansada da manipulação que a mÃdia, as ongs e os ruralistas fazem do tema…precisamos avançar com crÃtica construtiva e ações reais para usarmos melhor nossos recursos naturais…
Grato!
E eu sempreme perguntando por que os agrônomos não botam a boca no trobone, não berram essas verdades, não desmascaram essas ONGuinhas que não sabem nada, em especial os agrônomos do Sul do paÃs, e agora os do Cerrado?
O plantio direto foi introduzido inicialmente por produtores “bicho grilo”, considerados vagabundos maconheiros. Esses produtores, enquanto ainda estudantes de agronomia em algumas universidades brasileiras, estavam solidários a professores “otários” que defendiam tecnicas conservacionistas. O tempo e a experiencia, combinados com a adesão de alguns produtores, trataram de demonstrar o valor da tecnica. Logo, não foram os produtores em geral, nem a maioria, nem a média, que introduziram essa tecnica, que durante muitos anos foi considerada uma inutilidade, uma renuncia ao lucro, por uma imensa maioria dos produtores do paÃs. Dizia-se mesmo que no Cerrado seria uma loucura total.
Desculpe-me, Salvador, mas essa sua versão está muito longe do que me contaram os produtores já de 65-70 anos de Ponta Grossa e de outras regiões do Paraná…. Eu os procurei, entrevistei, convivi com eles, aprendi, tornamo-nos amigos. Bem ao contrarÃo, estudaram, pesquisaram, voaram para os EUA para encontrar com os papas das práticas de soil conservation – o Soil Conservation Service é criado em 1933, com base nas práticas de combate à erosão já utilizadas no inÃcio do século XX. Esses mesmos piorneiros brasileiros vão, também, conferir as informações com os alemães e holandeses. E não tinham absolutamnte nada de “bicho grilo”.