A Oxfam, uma confederação de 15 ONGs tradicionalmente sérias, divulgará amanhã um relatório indicando que o preço dos alimentos básicos mais do que dobrará nos próximos 20 anos, conduzindo a um retrocesso sem precedentes no desenvolvimento humano.
As populações mais pobres do mundo, que gastam cerca de 80% de seus rendimentos com a compra de comida, serão as mais fortemente atingidas. Segundo o relatório, o mundo está entrando numa era de crise alimentar permanente com inevitáveis turbulências políticas.
O relatório indica que o preço do milho aumentará em cerca de 180% até 2030, em grande parte como decorrência das mudanças climáticas.
Depois de décadas de redução na fome em todo o mundo, os números estão aumentando rapidamente, à medida que a demanda cresce mais do que a produção. As taxas médias de crescimento da produção de alimentos foi reduzida quase à metade desde 1990 e está destinada a se reduzir a menos de 1% na próxima década.
“Uma combinação devastadora de fatores criaram as condições para o crescimento da extrema pobreza. As mudanças climáticas, uma luta global por terra e água, a aceleração da transformação de alimentos em biocombustíveis, o crescimento da população global, mudanças nas dietas dos países, e a escassez dos recursos naturais – são esses fatores.”
A principal executiva da Oxfam, Barbara Stocking, criticou a excessiva concentração de poderes das corporações que atuam no setor alimentar, em particular no comércio de grãos de na produção de agroquímicos.
A divulgação do relatório da Oxfam acontece logo após um alerta da ONU sobre a possível elevação dos preços dos alimentos a patamares sem precedentes nas próximas semanas, desencadeando tensões sociais nos países em desenvolvimento.
Esse relatório merece reflexão no Brasil que se encontra numa bifurcação entre a segurança alimentar e uma hipotética proteção ambiental resultante da gradativa ampliação das restrições ao uso da terra através de Medidas Provisórias que alteraram o Código Florestal e Resoluções casuísticas do Conselho Nacional do Meio Ambiente – CONAMA.
A manutenção dessas regras nunca antes votadas pelo Congresso Nacional é defendida por instituições como a obscura Academia Brasileira de Ciências – ABC, cuja posse da nova diretoria ocorreu recentemente com um coquetel no Golden Room do Copacabana Palace. É bem fácil falar na proteção da biodiversiddade e em “biomas” sem seres humanos tomando um drinque e comendo salgadinhos em lugares refinados. Enquanto isso, os agrônomos que realmente conhecem a produção rural não são consultados e/ou permanecem em silêncio.
A hipótese de um “desenvolvimento sustentável” nunca foi sequer considerada pelos cientistas de verdade que elaboraram os estudos que deram origem às conferências mundiais de meio ambiente em 1972 e em 1992. Não há indícios de que o crescimento da população e o crescimento econômico possam ser “sustentáveis”.
O Brasil continua sem uma política de segurança alimentar além das bolsas isso e aquilo. Sistemas de apoio à alimentação e outros não são – ao contrário do que alguns tentam fazer acreditar – um invenção de Lula; existiram e esxistem até mesmo em países hoje altamente desenvolvidos, ainda que com maior ênfase em períodos de guerra ou de crise econômica e similares; nunca com características eleitoreiras e de permanência.