Dissemina-se o uso de águas residuais – depois de tratadas – e de água de chuva para a recarga de aquíferos subterrâneos, aumentando as disponibilidades e a segurança hídrica. Essa prática, velha conhecida em países como a Alemanha – onde é fonte de 2/3 do abastecimento público -, acaba de ser objeto de um estudo bastante amplo elaborado pela Academia Nacional de Ciências dos EUA – e publicado pela sua editora, encontrando-se disponível para download gratuito mediante uma inscrição simples que não requer mais do que o endereço eletrônico e uma senha (o campo com o uso a que se destina o download é facultativo).
Para os que interessam pelo assunto – segurança no abastecimento de água -, recomenda-se a leitura ao menos do Sumário Executivo e dos títulos dos capítulos.
Há anos, a Finep, com apoio da CEF e de outros órgãos, vem promovendo bons estudos sobre temas relacionados às alternativas de reuso de esgotos sanitários para diversas finalidades econômicas, e já é tempo de estimular esse tipo de reuso, assegurados bons níveis de tratamento e desinfecção. Mas, além da linguagem e do formato excessivamente acadêmicos – tais documentos se iniciam com longas listas de nomes de autores -, até agora houve pouca ou nenhuma aplicação prática de suas conclusões. Ainda assim, já é hora de se considerar a recarga de aquíferos com águas de escorrimento superficial – chuvas – como algo mais sério para aumentar a segurança hídrica, ao mesmo tempo que evita ou reduz enchentes e a subsidência dos solos urbanos, com seus elevados custos para a infraestrutura (como já se pode observar na região metropolitana de São Paulo).
No Brasil, o setor público caminha lentamente – quando caminha – em matéria de gestão de água. E com pouca ou nenhuma transparência. Apenas para exemplo, quem quiser folhear a descrição de um programa de US$ 143 milhões (isso mesmo, em dólares) com empréstimo do Banco Mundial no valor de US$ 107 milhões de dólares, pode se divertir. Trata-se da descrição de uma árvore de Natal, envolvendo uma multiplicidade de órgãos do governo brasileiro (talvez a tal da “base aliada”) e sem que se encontre uma relação de resultados concretos… ainda que a finalização da apresentação do projeto tenha se dado em junho de 2011. Conta a lenda que no quadro do projeto foi contratada uma “Política Nacional de Reuso de Água”. Ou terá sido de esgotos?
Fora isso, vale notar que o Rio de Janeiro, a tal “Cidade Olímpica”, tem desde 2004, um muito bem elaborado decreto que regulamenta a retenção de água de chuva quando a houver impermeabilização de solos exatamente para evitar enchentes, assegurar a infiltração e recarga do aquífero, e abrir uma porta para o reuso dessas águas… que nunca foi levado a sério. Ou alguém aí sabe de um conjunto de shoppings, supermercados, estádios de futebol e similares que tenham feito estruturas de retenção da água de chuva na fase de construção ou reforma, como determina o Decreto Municipal de 23.940, de 30.1.2004, que torna obrigatória a retenção das águas de escorrimento superficial e sua potencial utilização para reuso? É esse o Rio que se diz “cidade resiliente” ou “cidade inteligente” (smart city)?
Não custa lembrar que com as mudanças climáticas as chuvas tendem a ser mais concentradas no tempo e as secas mais prolongadas. Ou, como dizem os meteorologistas no mundo todo, o que era anormal já passa, aos poucos, a ser “o novo normal”. Nesse quadro, estratégias para a disponibilização de reservas de água são fundamentais. A recarga dos aquíferos brasileiros é mais do que suficiente nas atuais condições climáticas. Isso não significa que continue sendo por muito tempo, em função da contaminação e da impermeabilização das áreas de recarga.