Por Raquel Valentini, com muito bom humor
Toda semana, ele traz para a sua esposa e suas filhas alguns pacotes de absorventes externos e internos e protetores diários da empresa em que trabalha. Ele trabalha no departamento de marketing de uma empresa que fabrica produtos para a higiene íntima feminina e a acha o máximo. Na intimidade com sua mulher, ele acha estranho o fato dela andar tão indisposta, reclamar de incômodos e vira e mexe parar na ginecologista por causa de fungos. Ele chega a jogar na cara dela que ela anda pulando cerca por aí, pois ele jura que é fiel e se cuida. E ela, coitada, sem entender nada.
Essa, entre outras, é a realidade que muitas mulheres vêem enfrentando: uma praga de fungos e bactérias em seus órgãos genitais. E com a modernidade, parece que esse pequeno incômodo surge com mais frequência. “O organismo humano é um ambiente perfeitamente controlado e controlável. Existe uma flora microbiana natural na qual a maioria destes microrganismos tem ação de proteção contra a entrada de outros chamados patogênicos (que podem dar doenças)”, que também podem atuar, inclusive, sobre a flora vaginal. Ou seja, em condições normais e saudáveis, a mulher sempre está bem protegida.
Uma boa conversa com uma boa ginecologista (nessas horas as mulheres são melhores porque têm conhecimento de causa) ajuda a arejar as ideias: a vagina necessita respirar. O calor induzido por roupas apertadas, roupas sintéticas, protetores diários, etc., aumentam a produção microbiana da flora que logo se transformam em invasores (o prejuízo do excesso). A vagina não necessita dos sabonetes especiais vendidos por aí porque destroem ou tentam controlar os microorganismos produzidos naturalmente (cadê o IBAMA que não multa estes infratores da prática preservacionista e da exploração sustentável?). A vagina também não gosta de perfumes – o velho problema do uso de produtos químicos em áreas sensíveis. Todas essas modernas novidades vão de encontro aos discursos de proteção do bioma brasileiro e suas lutas pela defesa da microbiologia vaginal.
No mercado da higiene íntima feminina surgem produtos que parecem ser pensados e divulgados por homens que nunca conversaram seriamente com ginecologistas e ecologistas. Surgem mais opções de absorventes externos que se preocupam com a estética (lembra da campanha do Senta e Levanta (1) da J&J), mas esquecem completamente da saúde. Está cada vez mais difícil encontrar absorventes cuja área de contato não é feita de algum tipo de plástico, que causam leves ardências e assaduras nas mais sensíveis logo nos primeiros dias de menstruação. E as mulheres ainda têm de ouvir as promessas da publicidade: “Seja feliz também naqueles dias”ou “Vejo flores em você…”. Só se for pela morte da periquita que anda tão arrasada com tantos novos “produtos”.
Como solução, sugerimos aos fabricantes e publicitários desse mercado um profundo conhecimento sobre a intimidade das mulheres e da lei da Mata Atlântica para a proteção do bioma vaginiano-uterino, cuja delimitação é feita pelo IBGE. E para as mulheres já cansadas dos lobbys e dos ambientalistas sexualmente ativos, o recomendado é voltar aos antigos métodos: usar saião sem calcinha como faziam as tia-avós, usar os absorventes de pano – que estão voltando com a promessa de ecologicamente corretos – usar somente sabonete glicerinado sem hidratante, sem perfume e sem tudo o mais que inventam , usar mais vezes calcinhas de algodão, etc. Além dos cuidados diários, deve-se consultar SEMPRE um bom(a) ginecologista. Em tempo de crise ambiental, preservar a flora vaginal também é um ato consciente.
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