A “polÃÂtica” do governo em relação à garantia de empregos no caso da VW foi, inicialmente, incompatÃÂvel com a sua verdadeira devoção pelo tal do “livre mercado”. Foi com base nessa devoção que o governo agiu com o máximo rigor e dedicação no caso da VARIG – que continua sob fogo cerrado da tal da tal Agência Nacional de Aviação Civil (ANAC). Dilma Roussef chegou a mandar um recado “severo” para a VW, falando do descontentamento do governo com a comportamento da empresa. Ingerência descabida, até que Lula, com o seu usual mal uso do nosso idioma, deu a questão por encerrada ao declarar que a vida das empresas é assim mesmo, contratam quando as vendas estão em alta e descontratam (sic) quando as vendas caem.
Durante uma semana, o governo, através do BNDES, condiciona um empréstimo para a VW a um acordo com o sindicato! E um empréstimo para a “restruturação” da empresa, que provavelmente inclui capital de giro, uma modalidade de empréstimo só concedida aos muito poderosos… ou estrangeiros que prometem há séculos a redenção do Brasil através de investimentos externos. Isso sim é que é campanha eleitoral!!!
Um banco nacional de desenvolvimento que empresta para empresas estrangeiras com juros altamente subsidiados – e até para estatais estrangeiras – já é uma anomalia e tanto. Não uma anomalia legal, mas factual. Assim, por exemplo, na prática, é altamente improvável, senão impossÃÂvel, que uma empresa brasileira com atividades consiga dinheiro subsidiado da Overseas Priavte Investment Corporation – OPIC (o BNDES de exportação de capital deles, ainda que os empréstimos tenham a máscara da participação acionária).
Agora, o BNDES emprestar para uma empresa que deixou de ser competitiva e não adiciona qualquer valor ao segmento industrial em que atua mostra, sim, que nesse caso a polÃÂtica é só eleitoral.
Os modelos de veÃÂculos cujas vendas se aceleram nos paÃÂses “sérios” são os hÃÂbridos. VeÃÂculos hÃÂbridos operam com combustÃÂveis lÃÂquidos e com eletricidade, reduzindo o consumo dos primeiros em até 50%. Trata-se, fundamentalmente, de eletrônica embarcada para capturar a energia dissipada pelos veÃÂculos movidos a motores à combustão. Assim, por exemplo, a fonte de energia é trocada “automaticamente” da gasolina para a eletricidade quando o veÃÂculo desce uma ladeira, está parado num sinal, ou quando o motorista reduz a velocidade. Esses são apenas alguns exemplos mais simples e o que importa é que essa nova geração de veÃÂculos ganha rapidamente o mercado nos EUA e logo ocorrerá o mesmo na Europa. Durante a noite ou quando estacionado, o veÃÂculo hÃÂbrido pode ter a sua bateria recarregada numa tomada comum de eletricidade.
O crescimento das vendas de veÃÂculos hÃÂbridos no mercado norte-americano fala por si próprio:
2000: 9.367
2001: 20.287
2002: 35.961
2003: 47.525
2004: 83.153
2005: 189.916
Esse vertiginoso crescimento não se deve apenas aos avanços tecnológicos – as montadoras que estão dominando esse segmento de mercado são na sua maioria japonesas -, mas também à existência de polÃÂticas públicas de meio ambiente (redução das emissões de gases causadores do efeito estufa ) e de eficiência energética inexistentes no Brasil. Tais polÃÂticas públicas requerem a coordenação de diferentes áreas para que os objetivos sejam atingidos – desde a área ambiental até as posturas que determinam a colocação de tomadas de recarda das baterias nos postos de abastecimento. Mas lá, no paÃÂs do “livre mercado”, as autoridades sabem criar o mercado através de polÃÂticas tributárias (isenções, subsÃÂdios cruzados, créditos tributários).
Essas vendas tendem a crescer ainda mais rapidamente com o inusitado pacto entre o governo republicano da California e a legislatura democrata, que introduz o estado no crescente “clube” dos que aderiram ao Protocolo de Kyoto através da adoção de leis locais que exigem as mesmas metas de redução de emissões.
No Brasil, já existe um fabricante de ônibus hÃÂbridos. Evidentemente, o preço é mais alto, mais isso poderia ser facilmente compensado com isenções de IPI e ICMS (ou até de IR) por perÃÂodos pré-determinados. Mas não temos tantas mentes iluminadas assim na área das finanças públicas, e ainda menos qualquer tipo de coordenação entre polÃÂticas ambientais e polÃÂticas industriais. O Brasil exporta ônibus hÃÂbridos para o México e para o Chile, mas não os adota em áreas de poluição atmosférica intensa, como é o caso das regiões metropolitanas de São Paulo e do Rio de Janeiro. Aliás, o que se conta é que São Paulo exigiu que a indústria “testasse” os ônibus hÃÂbridos durante 2-3 anos antes de “certificá-los”.
Então, voltando à VW… se o Brasil tivesse uma polÃÂtica industrial ou uma polÃÂtica ambiental consistente na área de veÃÂculos automotivos, a dedicação do BNDES pelo financiamento a empresas estrangeiras poderia se orientar, pelo menos, para condiconar os empréstimos com juros subsidiados à s montadoras que introduzissem veÃÂculos hÃÂbridos no mercado brasileiro. Os benefÃÂcios macro-econômicos seriam enormes, tanto em termos da eficiência nos transportes quanto no que se refere à saúde pública.