Imagino que antes da concessão das licenças ambientais adequadas para a construção da hidrelétrica de Jirau tenham sido elaborados estudos os mais adequados sobre as consequências e impactos ambientais do empreendimento para a fauna, a flora, o bioma, o genoma, o futuro da micro flora, etc…
Devem ter sido ouvidos, calculando no barato, uns 17 organismos, que tudo aprovaram e acharam correto, lógico, legal e perfeito. Daí foi tudo carimbado por uns 28 servidores, encaminhado a outros tantos , sendo tudo processado com métodos semelhantes do antigo Testamento, inclusive com firmas reconhecidas e declarações de próprio punho, expedidos os Alvarás e afinal adequadamente arquivados .
Concedida a licença e iniciada a construção, parece que não foram levadas em conta, a opinião das onças de Rondônia que, imbuídas de espírito de porco (e não de onça) se recusam a cumprir o EIA e a obedecer às determinações contidas nos alvarás . De fato, embora haja muita água no local (pudera, um lago gigantesco) as onças não tem mais animais silvestres para predar e comer, embora possam beber. As moto serras federais estão liquidando a floresta.
Em consequência, os bichanos (pardos e vermelhos), de forma inteiramente subversiva, não conhecendo (nem querendo obedecer) as autoridades constituidas, sairam em passeata de protesto e tomaram o rumo da Capital do Estado, passando a comer os carneiros e galinhas dos criadores de gado da região.
Os fazendeiros criadores, de forma pouco poética e nada ambientalista, mas comportando-se como meros capitalistas (algo que no Brasil virou xingamento, apesar da mal contida admiração quando eles pagam “compensações ambientais” que depois somem), querem exterminar as onças por envenamento. Preocupado com as medidas retaliatórias dos fazendeiros, o governo mandou dizer que paga os bichos comidos pelas onças.
Os criadores responderam que não adianta, pois as onças podem comer os filhos dos empregados (por que diabo as onças preferem os filhos dos empregados?) e a vida das crianças não tem preço.
Acontece que para pagar o vale refeição das onças, o governo federal exige a formação de um outro processo (mais um), contendo fotografia 3×4 do fazendeiro, fotos das galinhas e carneiros mortos, e um requerimento descrevendo como o ataque ocorreu, o dia e a hora etc…, precedido de depósito da taxa de expediente, recolhida após fila no Banco do Brasil.
Ainda não se pede o retrato da onça mas, tão logo seja possível, um analista ambiental federal irá ao local do ataque, para definir se o ataque foi mesmo de onça, ou quem sabe do ” chupa cabras “! Depois se verá se existe a verba na previsão orçamentária, e se fará o devido “empenho”, para que não ocorram ” restos ” ( dos carneiros ) a pagar.
A moçada empresarial não que saber de nada e não tem tempo para ficar na fila! De forma que já está comprando chumbinho para envenenar as onças subversivas que se recusam a cumprir com as “condicionantes” das licenças ambientais.
Sabe-se com certeza, que as onças não vão comer os servidores que autorizaram o projeto e menos ainda os fazendeiros. Quanto aos empregados e seus filhos, não se tem tanta certeza.
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O burocrata de Brasília pensa, hoje em dia, como os velhos donatários de feudos em Portugal pensavam. Pensam que o mando deva ser exercido à distância. De forma que estão convencidos, que a distância entre Brasília e Porto Alegre, ou Brasília e Belém ou Manaus, ou Rondônia ( que é de horas e horas de vôo em aviões a jato ) é a mesma distância que separa Lisboa do Porto, do Algarve, de Coimbra ou de Évora (que é de duas horas de trem medíocre )!!! Duzentos anos de modernidade depois , ainda querem repetir o mesmo padrão azinhavrado, com pátina do tempo e da mesma forma vetusta utilizado em Portugal de Dom João V.