Ao final de 2014, o governo da Ãndia aprovou a implantação de 20.000 MW adicionais de capacidade instalada de geração de energia solar fotovoltaica nos próximos 4-5 anos, apenas em grandes “parques solares” (isto é, não considerando as instalações residenciais, comerciais e outras de pequeno porte. O anúncio do novo programa trás informações adicionais sobre o esquema de implementação, que envolverá o uso de terras marginais ou de baixa produtividade, a disponibilização de vias de acesso, de linhas de transmissão e de comunicações, entre outras formas de apoio aos investidores privados.
A Ãndia vem testando, também, o conceito de utilização de painéis solares sobre canais de irrigação de maneira a evitar a utilização de solos com potencial agrÃcola e reduzir a evaporação da água, além de explorar as sinergias entre a geração fotovoltaica e e a irrigação. Uma instalação para testes – com capacidade de 1 MW – já foi concluÃda no Canal de Narmada, no Estado de Gujarat – que até o momento é lÃder em iniciativas de grandes centrais solares no paÃs.
Esse tipo de experiência – a cobertura de canais de transporte de água com painéis solares – já vem sendo feita na Califórnia desde 2010-2011, com os mesmos objetivos.
Seria recomendável que o Brasil considerasse esse tipo de uso nas regiões onde existem canais de irrigação na região nordeste e até mesmo no projeto de “transposição do São Francisco”, cujas caracterÃsticas certamente envolvem altas taxas de evaporação e energia para o bombeamento de água. (As grandes empreiteiras brasileiras não gostam nada da ideia de evitar a implantação de linhas de transmissão, ainda quando mais onerosas do que a implantação de energia fotovoltaica).
Outras iniciativas na área da energia fotovoltaica incluem a colocação de sistema de geração flutuantes em reservatórios de hidrelétricas e em áreas de estocagem de resÃduos de mineração. Há notÃcias de pelo menos dois sistemas flutuantes de geração fotovoltaica em reservatórios, ambos no Japão, com capacidades instaladas de 7,5MW e 13,4MW. O governo brasileiro deveria viabilizar esse tipo de abordagem nos reservatórios das hidrelétricas da região Nordeste, onde são altÃssimas as taxas de evaporação – além dos Ãndices de insolação.
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Para os mais interessados em energias renováveis, vale subscrever à newsletter da Rede de PolÃticas de Energia Renováveis para o Século XXI, onde já se encontra disponÃvel para download o relatório referente ao ano de 2014 (vale chamar a atenção para a necessária separação entre a geração hidroelétrica convencional e outras formas de energias renováveis).
A capacidade instalada total mundial de geração fotovoltaica cresceu de 3,7 GW em 2004 para 139 GW em 2013. A Alemanha continua disparada na liderança neste quesito, com quase 35 GW de capacidade instalada, seguida, pela ordem, da China – cerca de 20 GW -, Itália, Japão, EUA , Espanha, França e Reino Unido. Os lÃderes em capacidade instalada de geração fotovoltaica per capita em 2013 eram, pela ordem, Alemanha, Itália, Bélgica, Grécia, República Tcheca e Austrália. Mas a mais rápida expansão deu-se na China, que instalou 12,9 GW num único ano, atingindo 20 GW de capacidade instalada total. Depois do desastre de Fukushima, o Japão acelerou o passo e instalou 6,9 GW de capacidade de geração em 2013, atingindo 13,6 GW de capacidade total (a maior parte em telhados de edificações).
Vale chamar a atenção do governo brasileiro para a referência feita no relatório – página 48 – de que muitas concessionárias estão se esforçando para evitar a micro-geração distribuÃda e até mesmo a geração para consumo próprio por temerem perder receitas. Aqui, ainda quando não exista uma resistência declarada, os trâmites administrativos podem transformar a implantação de qualquer tipo de micro-geração distribuÃda conectada à rede num exercÃcio de alpinismo.
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A nova iniciativa do governo da Ãndia antecipa previsões da Agência Internacional de Energia de que já em 2025-2030 o paÃs estará entre as lideranças mundiais na geração fotovoltaica.
E o “gigante adormecido”, onde fica nesse campo? Ou não fica, fica na mesmice dos escândalos com as grandes empreiteiras e nas promiscuas relações das concessionárias com a ANEEL, limitadas aos reajustes nos valores das tarifas?
O Brasil ainda não tem uma fabricação própria de células fotovoltaicas e nem mesmo uma indústria de purificação de silÃcio (matéria prima para a fabricação de um tipo mais convencional de célula fotovoltaica). E não é por falta de cientistas e pesquisadores, mas por falta de governo e de capacidade de criar mercados estratégicos.
De fato, apenas como exemplo, pelo menos desde 1999, o Núcleo de Tecnologia em Energia Solar da da PUC-RGS desenvolve pesquisas que chegaram a ser premiadas, após um desses prêmios noticiou-se que a Petrobras os ajudaria a passar da escala piloto para a escala comercial, e nada – absolutamente nada – aconteceu.
 Agora, Itaipu é a bola da vez das promessas vagas. Depois de um estudo de viabilidade técnico e econômica que avançou a passos de cágado, a estatal teria a intenção de amealhar investidores privados e iniciar a produção de painéis solares num futuro indeterminado. Daà até o mercado o caminho será longo, e a invasão chinesa já se terá consolidado (mesmo o Brasil sendo apenas um paÃs de economia periférica).