Se o acidente da British Petroleum no Golfo do México, que ganha as páginas dos jornais dos EUA e internacionais, tivesse acontecido num país pobre da África, o que aconteceria? Nada! Como, de fato, esses “acidentes” são incessantes e não acontece absolutamente NADA.
Essa questão – ignorada pelas ONGs ambientalistas do estilo “midiático” ou que desejam desviar a atenção do público desses assuntos mais graves – foi descrita e analisada nos últimos dias pelo editor de meio ambiente do jornal inglês The Guardian, John Vidal, num longo artigo cujo título já é um murro no estômago dessa gente que finge não saber: “A Agonia da Nigéria Torna Pequeno o Vazamento de Óleo no Golfo – Os EUA e a Europa Ignoram Este Fato”.
Da região do delta do rio Niger saem 40% do petróleo hoje consumido pelos EUA. Nessa delta, os vazamentos de petróleo são constantes. causados pela Shell, pela Exxon (no Brasil, Esso), pela mesma British Petroleum. Tanto as florestas e manguezais quanto as áreas de plantio ficam cobertas por petróleo pegajoso, a água dos poços se torna imprópria para o consumo humano, mas as petroleiras seguem impunes, e os cidadãos dos países importadores – cujos governos se omitem – nem ficam sabendo de nada.
Tendo ido até essa região durante um desses vazamentos, John Vidal relata as palavras do líder de um vilarejo que lhe serviu de guia:
“Aqui era onde nós pescávamos e tínhamos as nossas plantações. Nós perdemos a nossa floresta. Nós informamos a Shell sobre o vazamento em poucos dias, mas durante 6 meses a empresa não fez nada.”
Um local de pesca e cultivo até há poucos anos – segundo cientistas, escritores e grupos ambientalistas nigerianos –, o delta do Niger foi devastado por petroleiras que agem com total impunidade e descaso em sucessivos vazamentos causados, entre outras coisas, por tubulações antigas, algumas com mais de 40 anos, já corroídas. Essas tubulações cruzam o delta do Niger em todos os sentidos para dali retirar o petróleo leve de melhor qualidade do mundo. Lá, a população pobre convive com um permanente golfo do México, afirma John Vidal.
Durante a sua visita à região, um outro líder comunitário afirmou:
“As empresas de petróleo não valorizam as nossas vidas; elas querem a nossa morte. Nos dois últimos anos, nós tivemos 10 vazamentos e os pescadores já não podem mais sustentar as suas famílias. Isso é intolerável.”
O delta do Niger, com 606 campos de petróleo, é a “capital mundial da poluição por óleo”, afirma afirma Vidal. A expectativa de vida nas comunidades rurais, onde não existe acesso à água potável, caiu para pouco mais de 40 anos em cerca de duas décadas.
“É impossível saber a quantidade de óleo que vaza no delta do Niger a cada ano porque as petroleiras e o governo mantém a informação em segredo. Mas duas grandes investigações independentes feitas nos últimos quatro anos indicam que a mesma quantidade que já vazou no Golfo do México neste último acidente é despejada no mar, nas áreas pantanosas e no terra na região do delta do Niger anualmente.”
Outro líder comunitário afirma:
“As petroleiras agem com total descaso, o Legislativo não se importa, e a população é forçada a conviver diariamente com a poluição. Quando vemos o que está acontecendo agora nos EUA temos um sentimento de tristeza por vermos dois padrões de comportamento. O que eles (as petroleiras e os governos) fazem na Europa e nos EUA é muito diferente do que fazem aqui”.
O artigo completo de John Vidal pode ser lido na versão original em
www.guardian.co.uk/world/2010/may/30/oil-spills-nigeria-niger-delta-shell
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Essas são as petroleiras que, nos países desenvolvidos e outros, afirmam agira com total “responsabilidade sócio-ambiental”. Todas devem ter ISO 14.000, 15.000, 16.000 e outras imposturas para enganar trouxas.
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Um dos estudos sobre os vazamentos de óleo no delta do Niger foi conduzido pelo WWF da Inglaterra, pela World Conservation Foundation e pela Nigeriam Conservation Foundation. Nesse estudo, estimou-se que no último meio século os vazamentos de óleo no delta do Niger totalizaram o equivalente a 50 vezes o volume de óleo que vazou no caso do Exxon Valdez por ano.
A Anistia Internacional calculou, em 2009, o vazamento em 9 milhões de barris e acusou as petroleiras de ultrajarem os direitos humanos.
Estas estão entre as ONGs que não jogam apenas para as arquibancadas, como é o caso da franchise do Greenpeace no Brasil.
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Para quem se interessar mais, mesmo não compreendendo ingles, valem as imagens que podem ser vistas em http://vids.myspace.com/index.cfm?fuseaction=vids.individual&videoID=1731796864.